Ingerência política, refinarias ociosas e dolarização comprometem combate à carestia | VGN – Jornalismo com credibilidade
junho 18, 2022Refinaria Potiguar/Camarão, uma das maiores do País, com produção ainda aquém do investimento
A crise do petróleo que assola o Brasil – e o mundo – é resultado de variados fatores, principalmente pela alta do barril, cotado, no estilo Brend, nesta sexta-feira (17.06) a US$ 113, 61, segundo a Contsult Investing. Os países vêm convivendo ou contornando a crise com medidas duras, como corte de despesas, redução de frota ou compartilhamento e escoamento da produção via trens ou navios (que também tem alto custo). O Governo brasileiro, maior acionista da Petrobras, contudo, não consegue criar as mesmas medidas que outros países, até mesmo porque 44,51% das ações estão com investidores estrangeiros.
As trocas de comando da estatal, com três presidentes em menos de quatro anos, é uma prova da incapacidade do Governo Federal, numa crise que é grave pelos estragos que a alta dos combustíveis provoca na economia, mas poderia que poderia ter impacto atenuado se não houvesse desorganização, insegurança aos investidores, ingerência do Planalto e que o presidente tratasse a questão com medidas inteligentes, ao invés de procurar culpados para a elevação do preço do pretróleo. O governo forçou uma política equivocada sem volta e tornou os executivos e técnicos da estatal em vilões.
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Refinaria Abreu e Lima, uma das que refinam bem, mas não o suficiente
Segundo analistas, é preciso seguir os preços de fora, porque se o preço daqui ficar muito a baixo do que tem lá fora, fica desinteressante para as distribuidoras importar e trazer esse combustível de fora por um valor mais caro e vender aqui tomando prejuízo. Com isso, existe um risco de desabastecimento do preço no Brasil se não acompanhar o preço de fora do país.
Dois fatores importantes a destacar é o fato dos custos da Petrobras serem dolarizados, custo de plataforma e de tecnologia, se ela mantém os preços muito abaixo do mercado externo, os custos dela são todos em dólares, ela fica com sua receita e seus custos descasados, isso gera um problema de eficiência para a Petrobras, e com isso pode desembocar uma redução de investimentos.
A Refinaria Revap,a na Rodovia Presidente Dutra (S.José dos Campos), ocupa uma área de 10.000.000 m², capaz de processar 252.000 barris/dia
O país precisa investir mais para aumentar sua capacidade de refino – porque se houver interferência nos preços, se existe uma empresa estatal que fica puxando os preços para baixo, não há interesse de outros participantes virem para o mercado para investir no setor com outras refinarias – e com isso aumentar a nossa capacidade de refino que poderia ser uma via para resolver o problema.
O Governo tem batido muito na tecla do lucro da Petrobras, dividendos bilionários, lucros que a Petrobras distribui para os seus acionistas. Contudo, 30% do lucro vão para o Governo, porque ele detêm tem cerca de 30% das ações da Petrobras – considerando as ordinárias e preferenciais – e lucrou 2,5 bilhões em 2020 e 32,5 bilhões em 2022, teve um salto de 1180%.
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O Governo recebeu R$ 2,5 bilhões em dividendos da Petrobras em 2020, esse número saltou para R$32 bilhões em 2022, 1180%
O Governo fica falando que os Estados precisam reduzir impostos, e sobre o lucro exorbitante da Petrobras, é importante lembrar que uma boa parte vai para o Governo, a própria nota que a Petrobras soltou hoje, ela falou sobre tributos que a Petrobras está gerando cerca de R$ 200 milhões em tributos. “Não estou falando de lucros e sim tributos que recolhem para o Governo e, além disso, o Governo ainda recebe todo esse lucro da Petrobras”.
Os economistas colocam que o Governo poderia fazer políticas a partir do dinheiro que ele recebe da Petrobras – e dos impostos que ele recebe da Petrobras, mas o Governo não quer mexer no seu “vespeiro”, quer mexer nos outros vespeiros, porque se mexer no seu vespeiro, mexe no teto de gastos, mexe no superávit do Governo, porque hoje uma parte do dinheiro que vem da Petrobras é usado para amortizar dívida do Governo – e isso bate no teto de gastos, na popularidade do ministro Paulo Guedes, em relação aos economistas e ao mercado.
Têm todas essas complexidades que tem por traz de algumas frases que escutamos os políticos falando, que aparentemente é simples, mas não é simplesmente colocar um preço mais baixo aqui, do que lá fora.
E mesmo essa troca frequente de presidente não vai mudar muito a política de preço da Petrobras. Não adianta o presidente da Câmara dos Deputados pedir a renúncia do presidente da Petrobras, sendo que o próximo talvez não tenha o que fazer também, porque tem limitações dentro da empresa.
O que soa, é que o Governo está tentando matar o mensageiro, o problema é que o preço dos combustíveis está subindo no mundo todo e o Governo está tentando dizer que a culpa é do presidente da Petrobrás.
Tem discussões importantes a serem feitas, sobre tributar lucros de petrolíferas que estão lucrando mais com o aumento do preço do petróleo, sobre o uso desses dividendos, sobre a distribuição de lucros da Petrobras que deve ser feita, mas esse não é o único problema, tem vários outros problemas, e o grande pano de fundo é que o petróleo está subindo muito no mundo todo e não foi feita a lição de casa antes, não foi feito um fundo de estabilização antes, para amortecer os preços, quando já se sabia que os preços do petróleo iriam subir no mercado externo por causa de guerra na Ucrânia e vários outros fatores, uma reforma ampla tributaria para reduzir os custos da carga tributária no Brasil como um todo, o setor também não é eficiente, com isso não atrai iniciativa privada para ter outros participantes no setor.
Todas essas medidas são medidas complexas, você não troca da noite para o dia, e o que o Governo está querendo fazer, é trocar medidas da noite para o dia, porque as eleições estão aí, e a popularidade do Governo está sendo afetada por causa do aumento desses preços.
O consumidor vai ter um alívio de preços agora, mas o grande problema é o efeito reboot depois, quando você represa o preço, esse preço recobre o seu custo depois, então não tem mágica, não tem almoço grátis, precisa ser feito mudanças estruturais para resolver o problema de forma estrutural, porque senão toda vez que chega a eleição, o preço do petróleo sobe.
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