Desistência de adoção: por que o caso de Carol Nakamura chama tanta atenção? – Perrengue Mato Grosso

junho 2, 2022 0 Por Admin

Na última terça-feira, 31, Carol Nakamura e o marido, Guilherme Leonel, divulgaram nas suas redes sociais que Wallace, de 12 anos, voltou para a casa da mãe biológica. Nos posts, o casal falou que a decisão partiu do próprio menino, que viveu com o casal enquanto aguardava a finalização do processo de adoção.

Wallace vivia com o casal há três anos, desde que a atriz o conheceu no Aterro de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (RJ) e tinha a guarda provisória do garoto.

“Ele pediu para voltar e ficar com a mãe dele depois de três anos aqui. Foi triste, sofrido, sinto falta, mas tenho que respeitar a vontade dele. Não acreditava que isso fosse acontecer em momento nenhum, até pelo amor que ele tem pela gente. Sempre cuidei do Wallace, Guilherme levava na escola, somos pais mesmo“, explicou a atriz em um post.

O caso é complexo, levanta questões legais e, principalmente, afeta o psicológico da criança que mais uma vez passa por um momento delicado. A assistente social Silvia Maria de Oliveira Lima trabalha em uma casa transitória na cidade de Taubaté, no interior de São Paulo, e explica que o processo de adoção é permeado de muitas questões emocionais.

Carol Nakamura expôs a situação nas redes sociaisCarol Nakamura expôs a situação nas redes sociaisFoto: Reprodução/ Redes Sociais

“Quando falamos de uma família adotiva, erroneamente pensamos que se trata uma ação estritamente daquele que adota, como se a criança ou adolescente tivesse que passivamente aceitar sua nova condição familiar“, explica Silvia, que ressalta uma diferença entre esse senso comum e a realidade.

“O que vemos na prática são situações onde, muitas vezes, a criança tem dificuldade de se vincular à família adotiva, seja porque o vínculo afetivo que essa criança tem com sua família de origem é muito forte, ou mesmo porque a criança não se sentiu pertencente à sua nova configuração familiar.”

A psicóloga Raquel Irene de Macedo, que atualmente faz mestrado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP), afirma que é justamente esse vínculo que pode influenciar a criança a voltar para a sua família de origem. “Emocionalmente a criança pode manter vínculos afetivos com a família mesmo que esteja convivendo em outro núcleo familiar no momento“, diz.

Raquel ainda explica que, para as crianças, vínculo e pertencimento se sobrepõem às questões familiares. Segundo ela, a questão financeira pode contribuir para melhoria das condições de vida, mas não é tudo.

Voltar para a família de origem, segundo a assistente social Silvia, pode significar mais uma ruptura na vida da criança, e, em alguns casos, “pode estar associada a um sentimento de culpa e à ideia de não ter sido um filho suficientemente bom para a família substituta“.

Já a psicóloga diz que, mesmo que a criança possa sentir esse rompimento, não necessariamente será afetada negativamente se “conseguir acolher em seu coração o amor da família de origem e também o amor que recebeu desses novos pais com quem agora não estão mais convivendo”.

É direito dos pais adotivos viverem essa dor, assim como é direito da criança estar onde ela se sentir melhor”, enfatiza Raquel.

É comum o retorno à família biológica?

A psicóloga Raquel de Macedo diz que casos como o de Carol Nakamura são minoria. Segundo ela, as famílias de origem acabam perdendo o contato e a guarda definitiva dos filhos por apresentarem fatores de risco para crianças e adolescentes, tais como negligência, violência ou omissão de algum direito que garanta o bem-estar deles.

Não é sempre que as famílias de origem encontram condições de superação desses fatores prejudiciais, como destaca Raquel.

Via Redação Terra